A Alma dos Animais e
Há Animais na Erraticidade?
585. Que pensais da divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas
classes: a dos seres orgânicos e a dos inorgânicos? Segundo alguns, a espécie humana
forma uma quarta classe. Qual destas divisões é preferível?
“Todas são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material, apenas
há seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro
graus.” Esses quatro graus apresentam, com efeito, caracteres determinados, muito
embora pareçam confundir-se nos seus limites extremos. A matéria inerte, que constitui
o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas
de matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, também compostos
de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma
espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua existência
e de suas individualidades. O homem, tendo tudo o que há nas plantas
e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial,
indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extra materiais e o conhecimento de Deus.
591. Nos mundos superiores, as plantas são de natureza mais
perfeita, como os outros seres?
“Tudo é mais perfeito. As plantas, porém, são sempre plantas, como os animais
sempre animais e os homens sempre homens.”
592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os animais, parece
difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns
animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. Pode
essa linha de demarcação ser estabelecida de modo preciso?
“A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem
uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos
em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que
pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado
do que muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar
com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação.
Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado
um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres
homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles?
Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.”
593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por instinto?
“Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto.
Mas, não vês que muitos obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência,
porém limitada.”
Não se poderia negar que, além de possuírem o instinto, alguns animais praticam
atos combinados, que denunciam vontade de operar em determinado sentido e de acordo
com as circunstâncias. Há, pois, neles, uma espécie de inteligência,
mas cujo exercício quase que se circunscreve à utilização dos meios de satisfazerem
às suas necessidades físicas e de proverem à conservação própria. Nada, porém, criam,
nem melhora alguma realizam. Qualquer que seja a arte com que executem seus trabalhos,
fazem hoje o que faziam outrora e o fazem, nem melhor, nem pior, segundo formas
e proporções constantes e invariáveis. A cria, separada dos de sua espécie, não
deixa por isso de construir o seu ninho de perfeita conformidade com os seus maiores,
sem que tenha recebido nenhum ensino. O desenvolvimento intelectual de alguns, que
se mostram suscetíveis de certa educação, desenvolvimento, aliás, que não pode ultrapassar
acanhados limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza maleável, porquanto
não há aí progresso que lhe seja próprio. Mesmo o progresso que realizam pela ação
do homem é efêmero e puramente individual, visto que, entregue a si mesmo, não tarda
que o animal volte a encerrar-se nos limites que lhe traçou a Natureza.
597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade
de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?
“Há e que sobrevive ao corpo.”
a) - Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?
“É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se
der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais
e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.”
598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e
a consciência de si mesma?
“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu,
não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.”
599. À alma dos animais é dado escolher a espécie de animal em que encarne?
“Não, pois que lhe falta livre-arbítrio.”
600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se,
depois da morte, nem estado de erraticidade, como a do homem?
“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo,
mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra
por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência
de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal,
depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado
quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”
601. Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?
“Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados,
os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre,
porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores
inteligentes.”
Nada há nisso de extraordinário, tomemos os nossos mais inteligentes animais,
o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada
a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?
602. Os animais progridem, como o homem, por ato da própria
vontade, ou pela força das coisas?
“Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação.”
603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?
“Não. Para eles o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para
o homem.”
604. Pois que os animais, mesmo os aperfeiçoados, existentes nos mundos superiores,
são sempre inferiores ao homem, segue-se que Deus criou seres intelectuais
perpetuamente destinados à inferioridade, o que parece em desacordo com
a unidade de vistas e de progresso que todas as suas obras revelam.
“Tudo em a Natureza se encadeia por elos que ainda não podeis apreender.
Assim, as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o homem,
no seu estado atual, nunca chegará a compreender. Por um esforço da inteligência
poderá entrevê-los; mas, somente quando essa inteligência estiver no máximo grau
de desenvolvimento e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância, logrará
ver claro na obra de Deus. Até lá, suas muito restritas idéias lhe farão observar
as coisas por um mesquinho e acanhado prisma. Sabei não ser possível que Deus se
contradiga e que, na Natureza, tudo se harmoniza mediante leis gerais, que por nenhum
de seus pontos deixam de corresponder à sublime sabedoria do Criador.”
a) - A inteligência é então uma propriedade comum, um ponto de contacto
entre a alma dos animais e a do homem?
“É, porém os animais só possuem a inteligência da vida material. No homem,
a inteligência proporciona a vida moral.”
605. Considerando-se todos os pontos de contacto que existem entre o homem
e os animais, não seria lícito pensar que o homem possui duas almas: a alma animal
e a alma espírita e que, se esta última não existisse, só como o bruto poderia ele
viver? Por outra: que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo de menos a alma
espírita? Dessa maneira de ver resultaria serem os bons e os maus instintos do homem
efeito da predominância de uma ou outra dessas almas?
“Não, o homem não tem duas almas. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes
da sensação peculiar aos órgãos. Dupla, no homem, só é a Natureza. Há nele a natureza
animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza dos animais
e de seus instintos. Por sua alma, participa da dos Espíritos.”
a) - De modo que, além de suas próprias imperfeições de que cumpre ao Espírito
despojar-se, tem ainda o homem que lutar contra a influência da matéria?
“Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam
à matéria. Não o vedes? O homem não tem duas almas; a alma é sempre única em cada
ser. São distintas uma da outra a alma do animal e a do homem, a tal ponto que
a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas, conquanto não tenha
alma animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o homem tem o corpo que,
às vezes, o rebaixa até ao nível deles, por isso que o corpo é um ser dotado de
vitalidade e de instintos, porém ininteligentes estes e restritos ao cuidado que
a sua conservação requer.”
Encarnado no corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral,
que o torna superior aos animais. As duas naturezas nele existentes dão às suas
paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo
as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais
ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito
se liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se
do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação.
606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma
de natureza especial de que são dotados?
“Do elemento inteligente universal.”
a) - Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos
animais?
“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca
acima da que existe no animal.”
607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde
ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e
se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu
desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”
a) - Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio
inteligente dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade?
Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio
inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida,
conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da
germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e
se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando
a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade
dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois
a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o
homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas
entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade
perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para
apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza
de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza.
Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes
sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre todas as suas
criaturas.”
b) Esse período de humanização principia na Terra?
“A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período
da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto,
entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde
o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é freqüente o caso; constitui
antes uma exceção.”
608. O Espírito do homem tem, após a morte, consciência de suas existências
ao período de humanidade?
“Não, pois não é desse período que começa a sua vida de Espírito. Difícil
é mesmo que se lembre de suas primeiras existências humanas, como difícil é que
o homem se lembre dos primeiros tempos de sua infância e ainda menos do tempo que
passou no seio materno. Essa a razão por que os Espíritos dizem que não sabem como
começaram.”
609. Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito
traços do que era precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no
período a que se poderia chamar ante-humano?
“Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado.
Durante algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados
do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição.
Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos.
Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio.
os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-los
a vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire perfeita
consciência de si mesmo.”
610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que disseram constituir o homem um
ser à parte na ordem da criação?
“Não, mas a questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a
seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir
faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana
é a que Deus escolheu para a encarnação do seres que podem conhecê-Lo.”
611. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não
é a consagração da doutrina da metempsicose?
“Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais
tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, do gérmen informe
que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge
o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda
relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore
já não é a se mente. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem
da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode,
pois, dizer que tal homem é a encarnação do Espírito de tal animal. Conseguintemente,
a metempsicose, como a entendem não é verdadeira.”
612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua
nascente.” (118)
613. Embora de todo errônea, a idéia ligada à metempsicose não terá resultado
do sentimento intuitivo que o homem possui de suas diferentes existências?
“Nessa, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O
homem, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas idéias intuitivas.”
Seria verdadeira a metempsicose, se indicasse a progressão da alma, passando
de um estado a outro superior, onde adquirisse desenvolvimentos que lhe transformassem
a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta da alma do
animal para o homem e reciprocamente, o que implicaria a idéia de uma retrogradação,
ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão operar-se, entre os seres
corporais das duas espécies, mostra que estas são de graus inassimiláveis, devendo
dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as animam. Se um mesmo Espírito as
pudesse animar alternativamente, haveria, como conseqüência, uma identidade de natureza,
traduzindo-se pela possibilidade da reprodução material.
A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao contrário, na marcha
ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da sua própria espécie,
o que em nada lhe diminui a dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que ele faz das
faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida. Seja como for, a ancianidade
e a universalidade da doutrina da metempsicose e, bem assim, a circunstância de
a terem professado homens eminentes provam que o princípio da reencarnação se radica
na própria Natureza.
Antes, pois, constituem argumentos a seu favor, que contrários a esse princípio.
O ponto inicial do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das
coisas e de que Deus guarda o segredo. Dado não é ao homem conhecê-las de modo absoluto,
nada mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas
mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e,
acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim, por exemplo, que nem todos pensam da mesma forma quanto às relações
existentes entre o homem e os animais. Segundo uns, o Espírito não chega
ao período humano senão depois de se haver elaborado e individualizado nos diversos
graus dos seres inferiores da Criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria
pertencido sempre à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses
sistemas apresenta a vantagem de assinar um alvo ao futuro dos animais, que formariam
então os primeiros elos da cadeia dos seres pensantes. O segundo é mais conforme
à dignidade do homem e pode resumir-se da maneira seguinte:
As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das
outras, mediante progressão. Assim, o espírito da ostra não se torna sucessivamente
o do peixe, do pássaro, do quadrúpede e do quadrúmano. Cada espécie constitui, física
e moralmente, um tipo absoluto, cada um de cujos indivíduos haure na fonte
universal a quantidade do princípio inteligente que lhe seja necessário, de
acordo com a perfeição de seus órgãos e com o trabalho que tenha de executar nos
fenômenos da Natureza, quantidade que ele, por sua morte, restitui ao reservatório
donde a tirou. Os dos mundos mais adiantados que o nosso (ver n° 188) constituem
igualmente raças distintas, apropriadas às necessidades desses mundos e ao grau
de adiantamento dos homens, cujos auxiliares eles são, mas de modo nenhum procedem
das da Terra, espiritualmente falando. Outro tanto não se dá com o homem. Do ponto
de vista físico, este forma evidentemente um elo da cadeia dos seres vivos: porém,
do ponto de vista moral, há, entre o animal e o homem, solução de continuidade.
O homem possui, como propriedade sua, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe
confere o senso moral e um alcance intelectual de que carecem os animais e que é
nele o ser principal, que preexiste e sobrevive ao corpo, conservando sua individualidade.
Qual a origem do Espírito? Onde o seu ponto inicial? Forma-se do princípio inteligente
individualizado? Tudo isso são mistérios que fora inútil querer devassar e sobre
os quais, como dissemos, nada mais se pode fazer do que construir sistemas. O que
é constante, o que ressalta do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do
Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, a progressividade de
suas faculdades, seu estado feliz ou desgraçado de acordo com o seu adiantamento
na senda do bem e todas as verdades morais decorrentes deste princípio. Quanto
às relações misteriosas que existem entre o homem e os animais, isso, repetimos,
está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento
atual nada importa ao nosso progresso e sobre as quais seria
inútil determo-nos.
677. Por que provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?
“Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho
deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria
conservação. Daí vem que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e
o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva
acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais se cifra no cuidarem da
própria conservação, refiro-me ao objetivo com que trabalham. Entretanto, provendo
às suas necessidades materiais, eles se constituem, inconscientemente, executores
dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre para
a realização do objetivo final da Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o
resultado imediato.”
A Gênese
12. - A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados,
combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. É incontestavelmente
um atributo exclusivo da alma. Todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota
reflexão, combinação, deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é. O
instinto é guia seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo simples fato de
ser livre, está, por vezes, sujeita a errar.
Ao ato instintivo falta o caráter do ato inteligente; revela, entretanto, uma
causa inteligente, essencialmente apta a prever. Se se admitir que o instinto procede
da matéria, ter-se-á de admitir que a matéria é inteligente, até mesmo bem mais
inteligente e previdente do que a alma, pois que o instinto não se engana, ao passo
que a inteligência se equivoca.
Se se considerar o instinto uma inteligência rudimentar, como se há de explicar
que, em certos casos, seja superior à inteligência que raciocina? Como explicar
que torne possível se executem atos que esta não pode realizar? Se ele é atributo
de um principio espiritual de especial natureza, qual vem a ser esse principio?
Pois que o instinto se apaga, dar-se-á que esse princípio se destrua? Se os animais
são dotados apenas de instinto, não tem solução o destino deles e nenhuma compensação
os seus sofrimentos, o que não estaria de acordo nem com a justiça, nem com a bondade
de Deus. (Cap. II, 19.)
O Livro dos médiuns
"Os homens se mostram sempre propensos a tudo exagerar; uns, não falo aqui dos
materialistas, negam alma aos animais, outros de boa mente lhes atribuem uma, igual,
por assim dizer, à nossa. Por que hão de pretender deste modo confundir o perfectível
com o imperfectível? Não, não, convencei-vos, o fogo que anima os irracionais, o
sopro que os faz agir, mover e falar na linguagem que lhes é própria, não tem, quanto
ao presente, nenhuma aptidão para se mesclar, unir, fundir com o sopro divino,
a alma etérea, o Espírito em uma palavra, que anima o ser essencialmente perfectível:
o homem, o rei da criação. Ora, não é essa condição fundamental de perfectibilidade
o que constitui a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrestres?
Reconhecei, então, que não se pode assimilar ao homem, que só ele é perfectível
em si mesmo e nas suas obras, nenhum indivíduo das outras raças que vivem na Terra”
...
"Desse progredir constante, invencível, irrecusável, do Espírito humano e desse
estacionamento indefinido das outras espécies animais, haveis de concluir comigo
que, se é certo que existem princípios comuns a tudo o que vive e se move na Terra:
o sopro e a matéria, não menos certo é que somente vós, Espíritos encarnados, estais
submetidos a inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente para diante
e sempre para diante. Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para
vos alimentarem, para vos vestirem, para vos secundarem. Deu-lhes uma certa dose
de inteligência, porque, para vos ajudarem, precisavam compreender, porém lhes outorgou
inteligência apenas proporcionada aos serviços que são chamados a prestar. Mas,
em sua sabedoria, não quis que estivessem sujeitos à mesma lei do progresso. Tais
como foram criados se conservaram e se conservarão até à extinção de suas raças.
....
"Isto posto, reconheço perfeitamente que há nos animais aptidões diversas; que
certos sentimentos, certas paixões, idênticas às paixões e aos sentimentos humanos,
se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme
se procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais,
companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam inteiramente
aos animais selvagens, habitantes das solidões. Mas, daí a poderem servir de
intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos, há um abismo: a diferença
das naturezas”. (Erasto)
36ª Pode evocar-se o Espírito de um animal?
"Depois da morte do animal, o princípio inteligente que nele havia se acha
em estado latente e é logo utilizado, por certos Espíritos incumbidos disso,
para animar novos seres, em os quais continua ele a obra de sua elaboração. Assim,
no mundo dos Espíritos, não há, errantes, Espíritos de animais, porém unicamente
Espíritos humanos."
a) Como é então que, tendo evocado animais, algumas pessoas hão obtido
resposta?
"Evoca um rochedo e ele te responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos
a tomar a palavra, sob qualquer pretexto."
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